Língua Portuguesa
UERJ
“É que sou poeta
E na banalidade larga dos meus cantos
Fundir-se-ão de mãos dadas alegrias e tristuras, bens e males,Todas as coisas finitas
Em rondas aladas sobrenaturais.”
O fragmento do poeta de Mário de Andrade expressa um tipo de proposta que difere do projeto parnasiano de trabalhar com temas sérios, clássicos ou grandiosos.
a) Redigindo sua resposta em, no máximo, duas frases completas, aponte a diferença entre o projeto parnasiano e o que está expresso no fragmento acima.
Enquanto o projeto parnasiano se propunha como algo muito preocupado com os “grandes temas” o fragmento acima expressa a possibilidade modernista de tematizar a “banalidade”, valorizando o cotidiano.
b) Explique, em uma frase completa, a atitude do autor do texto quanto à metrificação e relacione-a ao estilo de época a que pertence este texto.
O autor utiliza versos livres (sem preocupações métrica), seguindo a postura do Modernismo, estilo ao qual pertence o texto.
UFRRJ
Há seis ou sete dias eu não ia ao Flamengo, agora à tarde lembrou-me lá passar antes de vir para casa.Fui a pé; achei aberta a porta do jardim, entrei e parei logo.“Lá estão eles”, disse comigo.
Ao fundo, à entrada do saguão, dei com os dois velhos sentados, olhando um para o outro. Aguiar estava encostado ao portal direito, com as mãos sobre os joelhos. D. Carmo, à esquerda, tinha os braços cruzados à cinta. Hesitei entre ir adiante ou desandar o caminho; continuei parado alguns segundos até que recuei pé ante pé. Ao transpor a porta para a rua, vi-lhes no rosto e na atitude uma expressão a que não acho nome certo: digo o que me pareceu. Queriam ser risonhos e mal se podiam consolar. Consolava-os a saudade de si mesmos.
ASSIS, Machado de Aires. In: Obra completa. Rio de Janeiro, Aguiar, 1989
Em “Consolava-os a saudade de si mesmos.” (linha 8), o autor está empregando a linguagem.
a) - Denotativa
b) - coloquial
c) - conotativa
d) - paradoxal
e) - sinestésica
Resposta - Letra C
O narrador descreve o quadro formado pelo casal de velhos com suavidade e melancolia, constatando que “mal se podiam consolar”. Ao personificar a saudade. O autor emprega a linguagem conotativa.
UFRJ
O IMPOSSÍVEL CARINHO
Escuta, eu não quero contar-lhe o meu desejo
Quero apenas contar-te a minha ternura
Ah se em troca de tanta felicidade que me dás
Eu te pudesse repor
- Eu soubesse repor -
No coração despedaçado
As mais puras alegrias da minha infância !
BANDEIRA, Manoel, Estrela da vida inteira.9ª ed. Rio de Janeiro:
José Olympio, 1982.p.118
O poema de Bandeira constrói-se com base na relação entre o eu-lírico e seu interlocutor.
A existência desse interlocutor é evidenciada em vocábulos que pertencem a duas diferentes classes gramaticais.
a) - Identifique essas duas classes gramaticais.
Classe gramatical dos verbos: “escuta” (imperativo) e classe gramatical dos pronomes: “lhe”, “te”, “tua”
b) - Diga que traço gramatical comum aos vocábulos indica a presença do interlocutor.
O traço gramatical comum é o uso da 2ª pessoa.
UNI RIO
TEXTO I
CARLOTA
“Eu sabia que era bela; mas a minha imaginação apenas tinha esboçado o que Deus criara.
Ela olhava-me e sorria.Era um ligeiro sorriso, uma flor que desfolhava-se nos seus lábios, um reflexo que iluminava o seu lindo rosto.Seus grandes olhos negros fitavam em mim um desses olhares lânguidos e aveludados que afagam os seis d’alma.
Um anel de cabelos negros brincava-lhe sobre o ombro, fazendo sobressair a alvura diáfana de seu colo gracioso.Tudo quanto a arte tem sonhado de belo e voluptuoso desenhava-se naquelas formas soberbas, naqueles contornos harmoniosos que se destacavam entre as ondas de cambraia de seu roupão branco.”
José de Alencar
TEXTO II
VIRGÍLIA
“Naquele tempo contava apenas uns quinze ou dezesseis anos; era talvez a mais atrevida criatura da nossa raça, e, com certeza, a mais voluntariosa. Não digo que já lhe coubesse o primazia da beleza, entre as mocinhas do tempo, porque isso não é romance, em que o autor sobredoura a realidade e fecha os olhos às sardas e espinhas; mas também não digo que lhe maculasse o rosto nenhuma sarda ou espinha, não. Era bonita, fresca, saía das mão das natureza, cheia daquele feitiço, precário e eterno, que o indivíduo passa a outro indivíduo, para os fins secretos da criação.”
Machado de Assis
a) - O texto I e o texto II apresentam descrições diferentes, entretanto o objeto descrito é o mesmo. Qual é?O objeto poético abordado pelos dois textos é uma figura de mulher.
b) - Retire de cada texto (I e II) uma passagem que caracterize o movimento literário a que cada um pertence e estabeleça uma relação de oposição sobre elas.
Passagem do texto I:
“(...) um desses olhares lânguidos e aveludados que afagam os seis d’alma.”
Passagem do texto II:
“(...)porque isso não é romance, em que o autor sobredoura a realidade...”
A relação de oposição:
Enquanto o texto romântico apresenta a realidade de forma idealizada, endeusando a mulher, o realismo apresenta a realidade/ objeto poético tal qual é, sem idealizações.